A ruptura com o falo na toxicomania
Coordenação: Cassandra Dias
Coordenação Adjunta: Cláudia Formiga
- Encontros quinzenais, às quintas-feiras, 20:00
- Início: 15 de maio de 2025.
- Atividade híbrida: transmissão via Zoom e presencial em João Pessoa e Natal.
- Inscrição pelo formulário: https://forms.gle/AYvWpggeGJerWAY66
“O êxito da droga é que esta permite a ruptura do matrimônio do sujeito com o pequeno pipi”. (LACAN, 1975). Tomaremos esta célebre frase, proferida por Lacan durante as Jornadas Anuais de Cartéis da Escola Freudiana de Paris no ano de 1975, como fio condutor da pesquisa do Núcleo de Toxicomania para este ano.
Como operador simbólico, o falo sintetiza o fato de que não existe, para a espécie dos falantes, um saber prévio que trace um caminho determinado até a satisfação. Não é o que acontece no reino animal, onde as escolhas se orientam pelo instinto, o comportamento sexual é ditado previamente e a escolha de um parceiro não está atravessada pelo mal-entendido.
No reino dos falantes, onde não há um saber no real que nos oriente acerca do sexual, o que impera é o campo do mal-entendido.
Nesse contexto, os chamados novos sintomas apresentam uma posição subjetiva para os impasses com o sexual e a castração distanciada do uso do significante e do sintoma, sendo a toxicomania uma dessas respostas, que consiste em uma experiência de negação da castração e de ruptura com o significante fálico.
O casamento com o falo assegura a inscrição do sujeito na partilha sexual, possibilitando sua localização como homem ou mulher ao se dirigir a um parceiro. Isso não significa que o usuário de drogas não se relacione sexualmente — ele o faz. No entanto, pode-se considerar que seu verdadeiro parceiro subjetivo é o próprio corpo, fonte de toda satisfação. Afinal, é justamente nos efeitos da substância sobre o corpo que ele experimenta como certo o encontro com o gozo.
(…) Na toxicomania não se passa pelo Outro sexo, que supõe ter que passar pelo encontro com o corpo do outro e que implica a diferença. Por sua vez, já vimos que esse passar pelo Outro supõe pôr em função o falo. (…) Quer dizer, que a solução toxicômana ao mal-estar não se busca pela via de encontrar ou de fazer do Outro a metáfora do objeto perdido, ainda que não o alcance. (NAPARSTEK, 2005, p. 59).
Eric Laurent (1988), no artigo “Três observações sobre a toxicomania”, afirma: “Não é uma formação de compromisso, senão uma formação de ruptura”. (LAURENT, 1997, p. 16). Portanto, interrogar o casamento com o pequeno pipi assim como a sua ruptura, nos permite interpelar a subjetividade de nossa época, tendo como horizonte a premissa da ruptura fálica e a primazia do caráter autista do gozo cínico.
Em 2025, interessa-nos acompanhar a trajetória do pensamento de Jésus Santiago, autor que desenvolve uma investigação consistente do campo das toxicomanias, no que se refere à formação de ruptura e suas consequências na relação entre inconsciente, sexualidade e cultura.
Tomaremos como base dois momentos da sua elaboração: a partir do livro “A droga do toxicômano – uma parceria cínica na era da ciência” e, em seu trabalho mais recente, “A pragmática lacaniana: inconsciente e sintoma não sem o tempo e o corpo”, onde ele amplia essa discussão em “A adição está na raiz do sintoma”.
Seguiremos investigando a clínica das toxicomanias a partir das coordenadas da orientação lacaniana, interrogando esse modo paradoxal de satisfação.